domingo, 3 de janeiro de 2010

CAPA REVELADORA

A reportagem de capa da revista Época número 605, de 21 de dezembro, é sobre o lançamento do livro da escritora irlandesa Karen Armstrong, Uma defesa para Deus. O livro tem como objetivo defender a religião das críticas severas feitas pelos pensadores ateus. Estes, há alguns anos, vem lançando livros, viabilizando debates, gravando documentários e até fazendo campanhas contra as religiões em ônibus de algumas cidades da Europa. São os ateus militantes ou os novos ateus. Aproveito a oportunidade para indicar alguns destes livros: Deus um delírio, escrito por Richard Dawkins, deus não é grande, escrito por Christopher Hitchens, A morte da fé e Carta a uma nação cristã, escritos por Sam Harris, Tratado de ateologia, escrito por Michel Onfray, Quebrando o encanto, escrito por Daniel Dennett e Infiel, escrito por Ayaan Hirsi Ali.
Quem escreveu a matéria afirma que o livro de Karen Armstrong é um alento para os que creem, um trabalho denso que resgata a relevância que a modernidade roubou às religiões. Não li o livro, mas vamos tentar encontrar a tal densidade em alguns trechos selecionados para a matéria. "Os ateus, infantilmente, concebem Deus como um ser poderoso que os homens não conseguem enxergar." É preciso muito cinismo para afirmar que os cristãos, os judeus e os mulçumamos não concebem Deus como este ser poderoso que eles não conseguem enxergar! Estes grupos acreditam sim que Deus é um ser poderoso que tudo ouve e tudo vê. Aliás, parece que Deus é o maior voyeur de todos os tempos, pois fica observando até a vida sexual das pessoas. "A religião não existe para explicar a origem do universo." Mas bem que tenta! Os livros sagrados tem historinhas mentirosas e bobinhas sobre a origem do universo e do Homem. O pior é que muitas pessoas ainda acreditam nelas. "A religião nos ajuda a lidar com os aspectos da vida para os quais não existem respostas fáceis: a morte, a dor, o sofrimento, as injustiças da vida e as crueldades da natureza." Se você tem um filho, de mais ou menos 6 anos, que morre de câncer, depois de passar um ano em um doloroso tratamento e se contenta com a explicação de que isso aconteceu porque Deus quis e ainda entrega esse filho morto a Deus e agradece a ele sabe-se lá porque, de duas uma: ou você não tem amor nem respeito por esse filho ou você não tem neurônios no cérebro! "A razão pode até curar o câncer, mas não nos ensina a agir ao receber seu diagnóstico nem nos ajuda a morrer em paz." Se eu estou com câncer e o médico me diz que para este câncer há 50% de chances de cura, por que devo supor que esse ser poderoso irá me colocar no grupo dos 50% curáveis? Por acaso sou melhor do que as pessoas do grupo dos 50% não curáveis? E quando se trata de crianças, como esse ser poderoso escolhe quem irá e quem não irá sobreviver? Quais são seus critérios? Não!!! Eu me recuso a ficar refém desta loteria divina. É muito mais tranquilizador confiar nas estatísticas. É hora de dar crédito a quem realmente merece! A ciência é que faz as pessoas viverem mais e melhor, as religiões só atrapalham e depois roubam os milagres da ciência! Quanto a morrer em paz, eu, sinceramente, não vejo os religiosos desejando, aceitando ou comemorando a sua própria morte ou a morte das pessoas de quem gostam. Deveriam, pois para eles deveria significar a aproximação do encontro com Deus. Ou será que todos acham que irão para o inferno? Talvez, afinal ninguém vive segundo as escrituras sagradas! Eu, se fosse religiosa, morreria extremamente intranquila, pois não saberia se iria para o céu, para o inferno ou para o purgatório e não desejaria ir para nenhum dos três lugares, já que, baseando-me na imaginação popular, é claro, nenhum deles parece um lugar atraente, muito menos o céu que é uma monotonia só!
E eu pergunto: cadê a densidade do livro? Há outros trechos na matéria mas bastam estes para concluir que ver um debate entre qualquer um dos ateus citados acima e Karen Armstrong é como ver uma partida da atual seleção brasileira de voley masculina com uma seleção amadora de voley, ou seja, não tem graça. As argumentações de Karen a favor das religiões não resistem ao menor sopro de racionalidade dos ateus. Então vou parar por aqui. A Época elogiou muito o livro, mas cometeu um ato falho. Escolheu uma capa que mostra o céu com umas nuvens, o sol brilhando atrás e a palavra DEUS entre as nuvens e o sol. Nada mais revelador do que é Deus: apenas uma palavra, nada mais!

Um comentário:

  1. Bem, nesta questão sou meio kantiano - nunca conseguiremos provar a existência de um ser necessário por meios empíricos. Mas como diz Fred Hoyle , astrofísico inglês 'Há muitas coisas que parecem acidentais, mas não o são. É o meu modo de ver Deus. É um arranjo, mas como está sendo arranjado, não sei'

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